terça-feira, 25 de dezembro de 2007

Dançarinos castanhos

O seu olhar grita!
Metralha em nome de sua alma
Urra
Esperneia
Dança um samba e baila um tango
Um baita de um amor contente e
Um tanto de melancolia renitente
Sapateia sobre o que fala
Irradia

Deixe que minha boca cale a sua boca
Abra os seus olhos e
Não vejam a minha roupa

sábado, 22 de dezembro de 2007

São Tomé

Creio ser-te desejo
Creio ser-te como um credo
Credo!, não quero mais crer

Creio ter-te a passeio
Creio ter-te em crédito
Crédito esse, de crer

A vida me ensinou
A não acreditar no que eu não posso ver
Mas faço exceção
Ao amor que tu me deste, invisível de viver

domingo, 16 de dezembro de 2007

Samba do tortinho

Acabo de sentir teu cheiro
Na pele de outra morena
Que pena, não era você

Onde é que vende o tempero
Da tua pele de açucena?
Pequena, eu quero você

Ainda bem que nasci brasileiro
E tenho um bom samba pra me acalmar
O queria se eu fosse estrangeiro
Sem o pandeiro pra me levar?

Eu seria um cara torto, tortinho
Não seria um cara legal
Não que eu esteja muito bem
Mas um bom samba nunca vai mal

terça-feira, 11 de dezembro de 2007

segunda-feira, 10 de dezembro de 2007

Faz falta

Se peço um abraço, me envolve num laço
Um passo para o amor
Se puxo a tua mão, num vácuo colado
Escondo a solidão

Se invento um apelido, espero contido
A sua aprovação
Ela vem num sorriso, rasgado e preciso
Mais forte que o perdão

- Faz falta!
Tua pele branca na minha
- Faz falta!
Te atormentar na cozinha
- Faz falta!
Ouvir suas historinhas
E imaginar contigo as minhas

sábado, 8 de dezembro de 2007

Des'esperando

Gosto de você
Desesperada'mente.

Desse cheiro de morango
Que hidrata meus pulmões.
Dessas costas largas
Que massageiam minhas mãos.
Dessa fala longa
Que adoça a minha audição.

É esse des'espero
Que me ac'alma.

terça-feira, 20 de novembro de 2007

Amandoando, andoamando

Amando, ando
Ando ando ando ando
Ando ando ando e ando te amando

Ando a mando
Amando, doando
Amor

E quase como um eco
Ando te amando tanto nesse jogo
Óbvio
De palavras
Óbvias
Desse eco
Óbvio
De te andar te amando, doando a mando do amor

sábado, 17 de novembro de 2007

Versos desprevenidos

Eu não vou mais calar a paz
Calarei apenas a tua voz com o nosso silêncio
Colando minha língua na tua
Meu corpo no teu
Nossa vontade em uma só

Nua.
Desprevenida, tal qual esses versos
Te vejo mesmo que
Vestida

Em tuas retas e tuas curvas
Em pêlos e pela mão que me graceja
Deseja o meu desejo
Desejo o que deseja
Te beijo e me beija

Vendo-me, livra-te de tuas vendas.

Vendo-me - me vê;
Vendo-me - me compra;
Vendo-me - me fecha os olhos ao calar minha boca
Com qualquer pedacinho de corpo teu.

Palavra ao vento


sábado, 20 de outubro de 2007

Circo de emoção

Se a gente não soubesse mais o que é amor
Se tivesse esquecido o que é paixão
Tudo faria sentido
Nesse circo de emoção.

Mas sabemos muito bem o que isso é
Por mais que seja complexo explicar
E desconexo com a nossa situação.

Sabemos que é
Amor!
E que é
Paixão!

Porque não viver?

Deixa o corpo levar que alma acompanha
E outras coisas todas se resolvem
Já que o tempo é trabalhador e madruga.

Passa acordada pela madrugada
Eu dou passos em minha sala
Brigo com os cigarros
Briga contra o tempo
Amanhã continuaremos sem brigar

terça-feira, 2 de outubro de 2007

Como dirá o poeta

O poeta dirá que nada distrói a
Poesia
Ela é uma atmosfera, um clima, um estado de
Espírito

Queimem-se papéis e neurônios
Poesia é hormônio
É a vida em eterna puberdade
Névoa que nos falta, mas que há por procurarmos

Como o amor, sua rima branca,
O poeta dirá que a poesia não está
A poesia é.
E é de noite sendo dia
É espinho que rasga de carinho
Faz do velho, menino
Faz da carne ser alma
Renova a morte em calma

E como o amor,
Renegada, a poesia é pela própria negação
O mágico sentido de existir em cada coração.
É rima fácil na canção
Somos nós dois e todos nós

domingo, 16 de setembro de 2007

Meio amor e meio


Um é de amor inteiro
O outro está quase lá
Existe o meio que separa.
Existe um meio?

Existe um meio
Não necessariamente meio bissetriz e
Exato
Quem sabe meio errado
E tem de ser meio assimétrico para
Perturbar
Senão não é amor

Meu amor não é de sofrer, é de querer
Bem
Querer

Mas se não sofrer, será que o amor será?
Ah, se perturbar...
Há de ser meio amor inteiro
Meio termo e meio

Existe um meio:
Hesite o meio


quarta-feira, 12 de setembro de 2007

Poesia concreta



Pela graça divina
Dessa luz que ilumina
As luzes da cidade bonita chamada São Paulo

Cidade de pedras, de prédios, de selvas de cinza
Poesia concreta chamada São Paulo

Eu juro que eu mato
Quem roubar tua concretude
Seus cantinhos de mato
Sua grã plenitude que te faz prosperar
Transpira monóxido e mata atlântica

Cidade de pedras, de prédios, de selvas de cinza

Poesia concreta chamada São Paulo

quinta-feira, 6 de setembro de 2007

O amor é rosa-choque

De mãos
De válvulas
De lábios

De bebê
De beber
De comer morangos imaginários

O amor são dedos entrelaçados
O amor pulsam
O amor se encontram
O amor ri e chora e é trocado de hora em hora
O amor embriaga

O amor é doce, choca e é rosa






ps.: Ok! A fase tá melosa!

domingo, 2 de setembro de 2007

Juramento

Eu só quero teu um juramento
Um “eu te amo” de contento
Mas pode ser um “quero você”

Com um “eu te adoro” quem sabe você me ganha
Tamanha seja a verdade, sinceridade tem de haver.

Eu vou fazer meu testamento
E pro nosso comum alento
Deixo tudo pra você

Um “te venero” para, quem sabe, elevar teu ego
Mas te espero pra a partida, minha ida há de ser

Uma viagem calma, em boa companhia
Tua alma junto a minha, meu riso junto ao teu
Meu paradeiro já está arrumado
Mas que demore pro lavrado começar a valer.



sábado, 1 de setembro de 2007

Confusão certeira

Sempre acreditei em destino. Talvez pelos mesmos motivos que acredito em Deus, no amor, na vida, na bondade humana, no São Paulo, na poesia e no Brasil.

Acredito na minha mãe também, e em mim mesmo.

Bom, essas duas últimas crenças são diferentes. As outras são por apenas ser e essas por eu conhecer muito bem de quem se tratam, e nas coisas que acreditam – Ok, de fato não vem ao caso, vou parar de fugir do assunto.

Na minha cabeça existem alguns pontos certos, inabaláveis, que me fazem viver. Não sei viver de outra maneira. Tais pontos navegam entre meus princípios, e outros são mais futuristas e flutuantes. São como pontinhos de luz nesse túnel de vento da vida (bonito isso!). Tais pontinhos são aquilo que chamo de destino. È uma confiança, uma fé, uma indubitável noção das coisas que vão acontecer.

Sem querer ser ou parecer vidente, mas eu acho que sei mesmo das coisas. E essa frase que acabo de escrever, por tão ridícula que soou, me arrancou uma gargalhada bem farta.

É da minha mediunidade racional que falo agora. Da minha racionalização dos sentimentos. Odeio matemática, mas são tão matemáticos os acontecimentos, que devo me render à lógica. Há um tempinho, nem muito nem pouco, eu teorizava esse processo racionalizante da maneira errada, anulando a pacionalidade – tentando, ! –, trocando-a pela mesquinhez, pelas pequinisses da gente. Mas... Lá vem ele, o glorioso destino, e mostra que não é assim que a banda toca!

Aí então que a banda volta a tocar. Na verdade, ouço mesmo só umas marcações, uns compassos bem safados, bem modestos, uns acordes dissonantes. Mas eles marcam forte em mim. É a Regra de Ouro que marca a cadência do destino, o retorno das coisas. Friamente, é na mesma intensidade; bem mais forte por ser eu agora o receptor.

O meu medo maior é o destino ser uma grande brincadeira, desse mesmo Deus que eu já disse acreditar. Aliás, findei por não explicar essa crença. Não sei se consigo, mas vamos lá: É possível tanta emoção, tanta coisa rolando, trepidando, pulando e caindo, tantos motivos e soluções e casos e resultados e começos sem fins, sem que haja monstros maiores para regê-los? Não é “monstro” de bicho ruim, mas é “monstro” de grandeza, de gigantesco.

Um desses ciclopes é o destino! Tudo vai e volta, como bumerangue. Mas alguém que jogou um bumerangue e recebeu-o de volta, deixou de jogar novamente para ver qual é? É claro que não! Jogou sim! E assim é o destino, como um pontinho girando no número 8, sem encontrar obstáculos para pará-lo! É a infinita correria de ida-e-volta das nossas missões, das histórias bonitas. E assim será: Uma constante correria sem começo e sem fim, eterna, que gira em torno dos mesmos pontilhados.


sexta-feira, 31 de agosto de 2007

Plataforma 8

- Oi, tudo bem?
- Vai de ônibus ou de trem?
- Eu vou de cabeça e pensamento
Não paga passagem
E vai mais longe e mais rápido
Que avião!

Vem comigo, meu amigo
De gravata, bermuda ou chinelo
Só de meia e mente inteira
De sonho e de paixão

- Eu acho que vou de avião
Ou na primeira classe da lotação
De frango, farinha e vitrola
De fraque, sapato e cartola
De gala, de leve e de frente
De mente eu vou como eu quiser
Serei patrão e serei mulher
Serei tudo aquilo que eu não puder
Eu posso

quinta-feira, 23 de agosto de 2007

Massa cinzenta

Muitas vezes, parece que instantes são eras.
Instalações precisas da vida inteira, em um
Segundo.
Sobra o resto da existência para pensar no segundo que passou

E o mundo continua o mundo
Bilhões de sapatos comendo suas solas
E fazendo a roda girar 24 horas
Nas escolas, nas fábricas
Massas cinzentas
E eu continuo preso naquele segundo

Afora meus sentimentos
Resta apenas o
Nada

domingo, 19 de agosto de 2007

Às viúvas de Josué

No Blag do Mauro (Beting), li a coisa mais sensata dita nessa semana sobre a saída do valente (e volante) Josué, do meu glorioso São Paulo Futebol Clube, para o acanhado Wolfsburg da Alemanha - texto escrito por Dassler Marques, do Trivela.com.

Não sei se é, e acredito que não seja mesmo, o melhor da última safra de jogadores brasileiros do tipo exportação. Mas, sem medo de falar bobagem, é uns dos que atravessa melhor fase e aquele que por mais tempo mantém essa regularidade absurda. E não falo só de sua meteórica e vitoriosa estadia em palcos tricolores, mas, inclusive, desde de sua participação anterior em um dos bons times que o Goias, dignamente como sempre, apresentou nas edições do Brasileirão.

Apesar disso, não fará TANTA falta o clube do Morumbi.

Deixará, SIM, muita saudade. Bem como Diego Lugano, Mineiro e (pasmem) Danilo. Porém, vale lembrar que foi exatamente quando o Josué foi para a Venezuela brilhar com a Seleção que o São Paulo se reestabeleceu no campeonato nacional, com os eficientes Hernanes e Richarlyson. E o clube ainda conta com o candidato a craque Fernando, de 19 anos. Assim como quando a equipe encontrou - não discutindo a qualidade, ou falta dela - substitutos para seus outros debandados.

Por acaso, o texto se chama "E agora, Josué?", em alusão ao "E agora, José?", do genial Drummond. E igualmente por acaso, nesse mesmo dia em que li o comentário de Dassler no Blag do Mauro, a TV Cultura transmitiu um documentário sobre textos que C.D.A. divinamente compôs, debruçado na divina arte brasileira de jogar futebol.

Os poemas falavam de Pelé, Rivellino, Carlos Alberto Torres, Tostão e companhia. Nunca os vi jogar, mas confesso que curiosamente senti muito mais saudades deles do que do bravo e talentoso Josué.

Blag do Mauro: http://www.lancenet.com.br/blogs_colunistas/mauro/default.asp

Otite

A única coisa de que posso dizer
Dentre tantas mil que desejo te urrar até continuar
Surda
É desse enorme vão que nos une

Queria teus tímpanos tão sensíveis quanto teu miocárdio
Porém mais certos das mentiras e das verdades
Livres de toda a confusão
Já que não são coração

sexta-feira, 17 de agosto de 2007

Canção da eternidade

Sempre que você passar do meu lado
Eu vou te perceber
Mesmo que você atravesse a rua
Princesa, eu vou te perceber
Resistirei ao tempo, ao amor próprio e a desistência
Eu vou te perseguir

Hei de ousar até te decorar
Ainda que não esteja ali
Você vai entender o que falam do amor
E amará meu filho mais que a mim
Rezaremos de colos colados, princesa
Amor ao filho que há de vir

sábado, 11 de agosto de 2007

Caminha

De menino ele adorava a caminha
Pulava, brincava, rodava e dormia
Plantava seus sonhos de menininho

De bola, de pião, de carrinho
Tudo que rodasse era mundo

Agora ele apenas caminha
Qualquer cama é lugar de
Pular, brincar, rodar e dormir
De plantar sonhos alheios

domingo, 5 de agosto de 2007

Pingue-pongue

Uma bola de pingue-pongue elétrica
Perereca numa bola maior.
Nada a faz parar

Vibra
Muito mais do que o próprio
Vibrar
De minha língua no céu da boca
Pronunciando o pronunciado vibratório da palavra
Vibrar

Tão rápida e frenética
Torna-se invisível e abstrata
Mas nós sabemos do que se trata
E que não é invisível.
Esfera introspectiva
Para que nossas línguas continuem
Vibrando

terça-feira, 24 de julho de 2007

Descobridor da Pangéia

Hoje meu coração acordou
Um milhão de Pangéias
Sofrendo
Um milhão de abalos sísmicos

Disse sofrendo? Não, sofrendo, não!
Trepidando

Colombo? Que Colombo, que nada!
Cabral? Às favas com Cabral...

Afinal, descobri um milhão de Pangéias trepidantes!

sábado, 21 de julho de 2007

Fio d'água

CHUÁ!

Finalmente abriu a torneira. Não conseguia por muito tempo tal feito. Na verdade nem tentava; quando atinou, a ferrugem o impedia. Suor, força e concentração foram capazes de vencer o alaranjado - cor essa, a da primeira água curta que escorreu.

Depois da vitória, trancou o aguaceiro e ficou ali sentado, admirando o feito. Levantou-se, foi até a pia, esmerou seu peso em seus braços cravados na beirinha. Recaído para frente, com os cabelos turvando a visão, reabriu e manteve um fino fio d’água correndo.

Por longo período indeterminado, sentou a vista no filete que ligava a fonte metálica ao ralo também de prata, vazado no fim da cuba de porcelana. O líquido já não possuía o laranja, e escorria tão fino quanto o feixe de realidade que ainda havia.

O fio d’água se transformou em pingos, desses pinguinhos bem minguados, compassados e insistentes que às vezes nos faz levantar da cama. Ele nem percebeu e nem reclamou com quem, provavelmente, usava o chuveiro ou dava descarga, diminuindo a fluência aquática. Manteve os olhos naquela direção.

Era uma tarde muito boa aquela, grande grau de excelência. Caminhava ao seu lado a nova e sempre bem-vinda amiga. Mais alguns amigos que não se lembrava exatamente quem. Dois, sim, eram dois os outros. Quem sabe três? Enfim... Riu, desbaratinou-os, puxou a linda pelo braço macio, tão tímido e ansioso quanto o seu, e a convidou para o lugar deles.

O local já era conhecido. Lugar planejado em silêncio por ambos, até que esse descalabro silencioso calou-se diante da verdade de seus quatro olhos, colados em uma tarde anterior sem beijos de boca, mas muitos beijos de imaginação furtiva.

Correu rapidamente a trajetória até a sacada, subseqüente às enormes e estafantes fileiras de degraus, ao primeiro e menor lance de escada, ao segundo portão, às pessoas comendo e papeado e rindo e comendo e se tocando e etc, ao caminho até aos comilões, ao portão, à segunda guia cheia de camelôs, à esquina e à primeira calçada em que estavam cinco minutos atrás, entre os três ou quatro amigos já citados

Lá os dois. Em alguns momentos falantes, em outros ponderando por sorrisos tímidos. Nem a obra e os pedreiros batucando ao lado adentravam seus ouvidos tampados de emoções.

Pediu para que cantasse. Acanhado, fez rodeios. Preferiu fantasiar que havia cantado. Já que fantasiava, o fez mais um pouco. Flutuaram por lá e por fora dali, na canção que a moça pediu. Sua voz saía rouca como sempre, mas sem que movesse os lábios. Seu canto já não era seu. Talvez fosse dela, por ela assim querer. Um canto de ninguém, o canto dos dois, sem pedreiro nem pedras para atrapalhar. Milhares de tentações, apelos, e ela ali, tão mulher, tão em si, tão para o garoto, sorrisos mastigantes, armadilhas laçadas de beijos e abraços, levando-o para onde sempre quis, sem dizer não, sem mistérios, sem vergonha.

Pousaram de volta ao cantinho. Sol ardido que cedia o calor ao batente, que fritava suas mãos escoradas. Continuaram ainda por um espaço nos beijos de alma. A bonita o interpelou, demonstrando dúvidas quanto às suas vontades. Subiu temor ao rapaz. Veio o medo de perdê-la, igualmente ao de se perder.

Para cortar o receio, um beijo macio e não muito alongado. Outros vieram. E vieram ainda outras tardes, sempre tão intensas e de potencial purificador só agora percebido.

Um CHUÁ travestido de passagem de volta tomou o lugar dos pingos, então enfeitados de passagem de ida ao passado.

Em terra concreta, cerrou a torneira. O ralo engoliu o fio.

Já é tarde. Melhor dizendo, ainda é tarde. Tarde muito boa como aquela, grande grau de excelência.

segunda-feira, 9 de julho de 2007

Ferro e fogo

Que lado prefere de mim?
Aquele que fere ou o que arde?
Um fere fundo e burro sem saber
Outro arde bonito e louco.
No sentido figurado, o fogo tem é que queimar

Quem engoliu a chave
Dessa porta que
Teima
Em se manter fechada?

Se eu te ferir é para depois queimar
Arrombo-te
Maculo-te
Sentidos desfigurados

O fogo deve arder

terça-feira, 3 de julho de 2007

Poema descompromissado do 21º aniversário

Vinte e um anos vividos
O vigésimo segundo em vigência.
Segundo o calendário,
Eu moro no meio do ano!
Segundo o meu coração,
Vem morar no meio de mim?

domingo, 1 de julho de 2007

No Mundo da Lua

Título óbvio!

Essa mentirada de que os Yankes e sua Apolo 11 puseram suas garras na Lua, em 1969, sempre me pareceu bem plausível! Puxa vida, e por que não? É bem digno ratificar isso, já que tanta coisa é possível. O Homem já fez tamanhos lances, já inventou e descobriu tantos mundos, por que não em território espacial? Eu mesmo, pequenino perto de qualquer imensidão estelar, no alto de meus castelos de areia de alicerces rígidos, muitas vezes me encontro por lá admirando uma pálida (mas não gélida!) lunática, carente de Sol. Ouso ser seu astro-rei, mas, de certo, os toques de satisfação, entremeados de negativas sutis e charme balançante de quem tem medo de ceder, fazem com que eu recue um pouco na minha tentação de iluminá-la; que pecado lunar seria o seu rosto corado de Sol, impedindo-lhe de a face rosar a cada uma das sinceridades com que lhe interpelo!

Sabe-se que desde os míticos navegadores portugueses e espanhóis, monstros e dragões sempre foram grandes temores, e as explicações mais cabíveis para erros de rota que resultaram em tragédia. Aos cosmonautas e astronautas, qualquer massificação rochosa poderia significar em fracasso no pouso. Desde o Vasco da Gama camoniano, que além de Trapobana enfrentou o gigante e desiludido Adamastor, rejeitado por sua bela Tétis, até o herói moderno Neil Armstrong, que seguiu acertadamente o “em caso de dúvida, pouse”, todos esses desbravadores deram voz a nós, viajantes em terra firme. Nós, que por vezes enfrentamos também os nossos adversários fantásticos e horripilantes; nós, que nos amedrontamos envoltos de tantos os pedregulhos e obstáculos, mas engolimos o medo e pousamos, sem se importar com as marcas n’alma que a manobra implica. Também nós, que certamente já fomos Adamastores, transformados em pedra por causa de uma Tétis; pela audácia de tentarmos simplesmente amá-la por qualquer custo ou motivo, sucumbimos à condição fria e insensível de penedo; por antes enlouquecer pela desumana ninfa e cerramos os olhos diante da nereida certa, sofremos ao tomar o rumo certo e percebermos a terra-prometida já distante quando à visão e ao coração palpitante retornamos. Nós, que nesse esboço poético de sobrevida, vestimos nosso macacão impermeável, nosso capacete-cartola mágica, dispostos a retomar a aventura de desbravar a gravidade flutuante e a gravidade de “amar sem medo de outra desilusão”. Nós, que apesar de o mapa denotar tórridas barreiras, sabemos da felicidade de enfim seguirmos a direção acertada e, vestidos também de fé e esperança, faremos de tudo para que o local almejado receba por completo o nosso desejo de cuidá-lo.

Já viajei muito? Também acho... Felizmente já comprei minha passagem só de ida para o meu amado Mundo da Lua, na confiança de visitar a lunática tão esperada.

sábado, 9 de junho de 2007

A mulher sem defeitos é apenas admirada

Nunca é amada!

Amigo ou amiga: Não pense que eu sou desses que se vangloriam de uma teórica densidade sentimental. Não passa pela minha cabeça a fantasia de não ligar para a aparência – por mais que essa renúncia seja, possivelmente, para mantê-la. Não que a feia me atraia, já que ao me atrair, será bela em meus olhos. Mas, aquelas belas que são belas de nascença, sem dúvidas de sua beleza, que fazem qualquer um parar e olhar, que têm beleza até mesmo quando acordam feias, enfim, essas... Acho que essas eu só admiro. Claro que eu aprecio uma bela bunda, pernas, olhos, boca, cabelos, cintura, umbigo... Acho que até mesmo pés, mãos e pescoço despertam em mim coisas inerentes a qualquer reprodutor do reino animal, mas para que eu a ame, eu preciso encontrar um defeito. Acima desse desejo, que me arrebata ao detectar uma dessas privilegiadas caminhando faceira, como se fosse dona da calçada que ousa colocar-se sob seus pés, mora essa cláusula pétrea em minha alma: Jamais amarei uma mulher perfeita.

Uma pessoa tem que ter um defeitinho para se gostar, por mais que o tempo o transforme em uma simples característica – em qualidade, NUNCA. Não falo de desvios de condutas capazes de açoitar um amor, não é isso. Deslealdade, mentira e tudo mais, essas coisas todas não são boas. Falo é daqueles defeitos que todos vêem, mas que só uma pessoa será capaz de ver pequenininho de fronte aos outros atributos. Comigo sempre foi assim e arrisco dizer que todo amor de verdade possui esse proceder.

Árdua missão é dissertar sobre amor. Pelo simples fato de apenas podermos nos basear em experiências vividas para possuir propriedade real, ou por ser o tema mais recorrente em milênios de desenvolvimento cultural humano, ou, finalmente, por ninguém ter chegado à conclusão nenhuma referente ao assunto, por todo isso que todo mundo já ouviu falar, o amor, tal como Deus e outras dúvidas da condição humana, ele aparece em minha vida como foco central. E desde que li uma crônica do Arnaldo Jabor, estou sofrendo de uma inquietude muito grande. Não sei se ele parafraseou ou elaborou por si só, mas constatou que o “amor é uma ilusão sem a qual não podemos viver”. E é estranho ser desse modo, porém creio não ser o único a sempre estar apaixonado. È inadmissível me imaginar sem ter alguém na mente. Alguém que faça sofrer ou sonhar, sempre esse alguém existe em mim para “que o sonho possa transbordar”, como o Lobão escreveu. E para esse sonho continuar a ser sonho, em que busca eterna e inatingível desse amor sonhado se faça pertinente, o defeito é imprescindível, ele é a minha “paixão à primeira vista”.

A mulher sem defeitos é apenas admirada, nunca é amada. E não só a mulher, pois se uma eu fosse, depositaria tal verificação também ao homem. Acho que a mulher perfeita é a mais amada.

sexta-feira, 20 de abril de 2007

Tá todo mundo louco

(por que não eu?)


32 assassinados pelo louco suicida. São 33, as mortes. Mas todos se esquecem de Cho Seung-hui. Não estou defendo o “vocês tinham cem bilhões de opções e maneiras que teriam evitado o que aconteceu” de Cho. Só que... Será?

Mark Horowitz, psiquiatra americano, mestre da Universidade de San Francisco, Califórnia, defende que “o mais lamentável é que ele buscava ganhar publicidade e conseguiu”. Concordo e discordo. Concordo: sim, ele conseguiu publicidade, não há o que teimar e nem como ser diferente. Discordo: a publicidade do caso se torna necessária, e o debate do tema deve invadir faculdades, escolas, casas, bares e cafundós-do-judas de todo os Estados Unidos e adjacências, SIM. Mas, a publicidade do ALERTA, não da PARANÓIA.

Já está tudo muito doido, e não é preciso salientar essa patologia social de atropelamentos, aniquilações, enxurradas, mazelas e etc (todos esses acontecimentos podem ser lidos no sentido figurado, ou não).

sábado, 14 de abril de 2007

A violência além da violência

Soube da notícia, choquei-me, avisei para alguns, esqueci-me de outros. Tomamos providências e fomos.

No caminho matamos saudades. Poucas vezes estaremos todos juntos novamente, datas como aquela eram uma grata raridade – gratificante por ser raro o motivo, raro por ocorrer o gratificante encontro. Os quatro botavam o papo em dia enquanto eu refletia sobre o que nos unira naquele momento, e me surpreendia ao reconhecer a cidade então desconhecida, que sinceramente eu pensava mal. Fama de mundo-cão bem mal traçada na capital que não limpa a própria bunda e fala do fedor alheio.

Ficaram do lado de fora do Hospital, fomos eu e mais um ao encontro dele. Não fugia da minha meta tentar devolver um pouquinho do seu universo desabado. Mas fugiu. Toda a dor pelo sofrimento de meu amigo escondeu-se ao atravessar aquele portão “só para funcionários autorizados”.

Corredores abarrotados de gente morrendo, com alguns sortudos que ainda possuíam macas. Quem precisava estar deitado, estava sentado. Quem precisava estar sentado, de pé. Supus o óbvio: ter uma maca naquele inferno condizia com a sorte de no dia seguinte bater na porta do céu. Sabe daquelas cenas de filmes americanos, de desastres, furacões, "Enchente - Quem salvará nosso filhos?", em que há de fato um motivo para a aglomeração de mortos vivos? Mas, não era cinema...

Saí do cine-trash e voltei para o mundo real ao entrar em uma sala, falar com sua família e sua mãe. Deve ser foda perder o marido ou a esposa. Imagino então o pai ou a mãe. Tornei a sofrer por ele.

Finalmente, cerca de meia hora após esperá-lo no estacionamento – ele estava tratando das burocracias da ocasião –, abracei-o juntamente aos nossos camaradas.

São três coisas machucando desde essa noite, umas daquelas tristes que a vida de cada um oferece: o sofrimento de meu amigo, a violência submetida aos enfermos no Hospital Antônio Giglio, e o outdoor avistado, no episódio do reconhecimento da cidade então desconhecida, que dizia mais ou menos assim: “SUPER-AVENIDA: Dep. João Paulo Cunha (PT-SP) consegue 1 milhão de reais para a construção, em Osasco”.

Prioridades políticas, violentas prioridades políticas...

Declarações de amor

Todas as declarações de amor
Se tornam baratas com o passar do tempo
E mesmo que todo tempo seja
Cada vez mais
Mérito e busca de todo sentimento mágico
O ineditismo das palavras parece se fantasiar de palavras iguais
Todas as já repetidas ou nunca pronunciadas
Caem no marasmo da lengalenga apaixonada

No meu amor pretensioso, eu sou as declarações

segunda-feira, 9 de abril de 2007

Devaneio teológico em ressaca pascal

Já de antemão, adianto ao leitor mais preocupado com embasamento teórico, para não continuar a fatigar sua vista, pois talvez não passem de asneiras. Utilizo ainda a dúvida para vetar a profundidade desse meu texto e considerá-lo totalmente uma grande besteira, já que nessa realidade de explicações elas próprias não demonstram nitidamente as suas. Logo, se for patacoada será apenas mais uma, em séculos de coleções de ilusão mitológica de uma humanidade conformada com a fé.

Vamos logo as minhas confabulações pseudoteológicas:

Toda a minha escolaridade foi em uma escola católica. Sou parte de uma família religiosa, e se não são fervorosos, são os famosos católicos não praticantes. Superficialmente, conheço a Bíblia, especialmente o Novo Testamento dos quatro apóstolos mais famosos – não me pergunte os nomes! –, mais trabalhado pela congregação Marcelina na qual estudei. Considero-me cristão e - parafraseando um sábio amigo - de uma religião tão minha, mas tão minha, que se eu encontrar um novo adepto, eu saio fora. “Não há Deus senão o Homem” (A. Crowley).

Creio em Jesus Cristo, apesar de na Santíssima Trindade ser mais afeiçoado com o Espírito Santo – o que não vem ao caso detalhar. A figura do messias me causa fascínio, tanto pela história criada em torno dele - uma fábula belíssima sobre o triunfo do bem -, ou pelo sujeito revolucionário e pacifista que foi: libertário, moderno em seu contexto histórico, um visionário.

Os ideais do pretensioso Mundo Ocidental e os de Cristo coexistem. Daí eu penso, em um devaneio kardecista: não seria o nosso Salvador uma das reencarnações, de tantos os profetas enviados pelo próprio Deus para guiar as civilizações no caminho do bem? Buda, Maomé, Moisés e Jesus, dentre outros menos difundidos, não seriam as várias formas tomadas pelo enviado, cada um adequado à determinada cultura ou costumes?

Quem sabe explique essa temática inusitada, a abstinência de um filho nas mãos de uma mãe com repentes religiosos, abolindo por quase uma semana um vício desse que vos escreve: CARNE. Ainda em tempo: desde pequeno não entendo o motivo de celebrarmos a carne Dele com pão! Mas é idiotice só, já que não bebemos sangue. Pelo menos de modo literal, não temos o hábito.

Fica a pergunta, procurando algum outro para responder ou perguntar em parceria.

Ps: Agradeço a Deus ter o que comer, mas para o meu desconsolo, o almoço de hoje foi o resto de ontem: PEIXE.

Como Ícaro e a Formiguinha das Fábulas

Voei sem pensar em nada
Nem me vi planando
Tão seguro que estava

Das coisas boas eu só levei
Aquelas que me presenteou
O resto só eu sei onde escondi

Fiz uma dispensa para quando a hora chegar
Eu ter ao que me apegar
Contei escassos horrores e alegrias infindáveis
Pr’eu sempre ter um problema novo

Quando passamos de especiais
Apenas arrependidos do que não foi
Nos arrependemos duas vezes:
Por nós e pela consciência incansável

domingo, 1 de abril de 2007

O último Dia da Mentira

Não por rejeitar a objetividade palpável, e mais por buscar racionalizar as emoções, costumo escrever sobre temáticas mais abstratas, e se concretas, de modo bem subjetivo. Todavia, amante de futebol que sou, e apaixonado pelo personagem desse domingo, não pude fugir do assunto. E, para não fugir também do estilo, analiso esse acontecimento sem que ainda tenha ocorrido - se não ocorrer, será uma tragédia do destino.

Quis esse mesmo destino trágico, graças aos seus modos tinhosos, hoje ser 1º de Abril. Poderia ser um dia qualquer, como um 28 de Agosto ou um 17 de março, mas não, hoje é o Dia da Mentira. “E daí? Todo ano tem o Dia da Mentira!”, e eu respondo que esse será o último Dia da Mentira no Brasil! Não que ela deixará de ser celebrada, mas não só a ela renderão louros. No País do Futebol, o Dia da Mentira será, a partir do ano que vem, o dia em que o Rei da Pequena Área fez o seu milésimo gol.

Pois bem, justos e chatos dirão: continuará sendo o Dia da Mentira. Eu concordarei com eles, ora por chatice, ora por justiça. Mas, celebrarei com os noticiários esportivos e com o Jornal Nacional, todos os próximos 1º de Abril, como o dia em que Romário igualou a marca de Pelé. Ok, não há comparações. Disseram-me à vida inteira que nunca existirá um novo Rei tão poderoso como o que houve, capaz de assustar o mais impiedoso zagueiro.

Edson Arantes do Nascimento, quando era Pelé, estabeleceu sua história no Dia da Bandeira, 19 de Novembro de 1969. O destino provou aí a sua ligação com o futebol. Da mesma maneira em que as zebras, as improbabilidades e os resultados injustos são acometidos a ele, ataco-o explicando o fato da marca de ambos os reis terem sido em dias folclóricos para suas pátrias – datas escolhidas a dedo.

Não existe maior símbolo para qualquer nação, senão sua bandeira. Peculiar como só o Brasil consegue, o mesmo sujeito que crê nossa capital ser Buenos Aires, sabe de nós tanto pela bandeira, quanto por Pelé, representante maior – e será assim mesmo depois de sua morte – do Brasil.

Depois de rodear tanto, o assunto mais importante. Se Romário não possui a mesma representatividade internacional, o destino fez por onde, subliminarmente, dar-lhe o dia mais cabível para sua conquista. Se o tempo e a mídia mitológica fizeram com que eu, que não vi Pelé jogar, determiná-lo como o melhor de todos, não duvido que façam uma parceria com o destino. Meus netos, e quem sabe até meus filhos, dirão aos seus que Romário foi o insuperável Rei da Pequena Área, e que nada era impossível para o baixinho, mesmo com cabelos brancos, sem treinar, e sempre envolto na boemia do Rio de Janeiro – farei de tudo para que digam. Preocupa-me apenas, a probabilidade da instituição de Romário ser tão mentirosa quando a antiga celebração do 1º de Abril, já que Pelé é hoje muito mais importante que a nossa própria flâmula.

Palavras por nada

Quem nunca atirou a pedra,
Buscou na mosca,
E acertou o asno que é?

Pode ser a ligeireza da mosca
Pode ser a mira fálica do asno
Podem ser essas palavras tortas, feito pedra
Ligeiras, feito mosca

Asneiras, como tu e essas palavras que não chegam a lugar nenhum

sexta-feira, 30 de março de 2007

Grupos de estudo

Se pudesse virar do avesso para não mostrar a cara, certamente já estava com as carnes à mostra. A moça não se agüentava de vergonha. O escárnio pessoal fez com que ela morresse pelo menos metade do que tinha de vida.

Ainda seguindo todo o tremor do corpo, a mão alcançou as chaves sobre a cômoda. Trancou e bateu a porta, com tanta força, que ela mesma se assustou com o barulho.

- Está tudo bem?

- Sim, algum problema? – Devolveu rispidamente a pergunta à velha vizinha, que percebera seu desconforto ao sair do apartamento abandonado.

* * *

Já estava desconfiada há semanas, ressabiada com todas as histórias fabricadas por sua mente cansada. Ninguém chegou para dizer nada. Não foi preciso. Ela mesma tomou suas próprias conclusões sobre os fatos que supunha. Mas, vamos lá, explicar bem direitinho, por que está tudo meio confuso, mesmo:

Bonita moça. Nada de mais, mas bonitinha. Sempre ajeitadinha. Cabelo bem alinhado, blusa de alça fina permitindo os belos ombros se exibirem. Nada de mais, MESMO. Até que chamava a atenção por onde passava. Os meninos sempre comentavam, desde a época do colégio, uma das mais cobiçadas – e a que mais cobiçava. Jamais foi a queridinha da turma, porém tinha sucessivamente com quem passar as tardes de estudo. Estudava com uma meia dúzia de coleguinhas por dia, ou mais, talvez aí o motivo de ser tão adorada – era uma máquina de estudar. Mas, pensando friamente, ela realmente não era nada de mais.

Cresceu, continuou ajeitadinha e estudiosa, mas agora só tinha um companheiro de estudos. O rapaz era igualmente estudioso. Conheceram-se num grupo de estudos da faculdade. Paixão à primeira estudada. Combinaram tanto, TANTO, que decidiram desde então não dividir sabedoria com mais ninguém.

Formada e casada há cerca de 35 anos, desajeitou-se. Desleixo não, mas o tempo é uma praga avassaladora, destruindo em turbilhão por onde atravessa. Os ombros charmosos confundiam-se muito bem com cabides em uso. O seu rapaz se tornara senhor. E, se ela havia perdido a gana pela didática, em segredo ele ainda mantinha a prática científica. Lecionava antes do trabalho, para uma jovem, nova na empresa em que ganhava a vida. Menina aplicada e prestimosa, logo superaria o professor.

Trataram por telefone, no final da noite anterior, de repassar algumas lições. A casa da garota seria dedetizada, e como a esposa não estaria por lá pela manhã, o senhor transferiu as aulas daquele início de dia para um apartamento abandonado, vizinho à sua própria residência.

Como imaginado, a esposa acordou antes que ele. Tinha exame de sangue marcado, depois toparia com uma amiga para desjejuar. Não notaria nada. Tardaria a retornar. Ele levantou, tomou café deixado sob a mesa, arrumou a cama, e a discípula logo tocou a campainha. Atendeu, cumprimentou, abraçou, e logo começou a ensinar ali mesmo, em sua própria sala – era grande a sede por ministrar.

Examinou a desenvoltura da garota – “já esta quase mestra”, pensou. “Se a esposa me pega, estou fritou”, refletiu. “Que barulho é esse?”, falaram! (tempo) “Ela não demorava?”, ouviu! “E agora?!”, respondeu!

O telefone. A mulher perguntando se a guia do exame estava na escrivaninha. Estava subindo para pegar.

Correram o mais depressa possível, para camuflar as evidências do curso! Guardou o lápis, enquanto ela fechava o estojo! Dispararam para a porta dos fundos! A menina rompeu a passagem e logo estava fechada no apartamento que ele havia arrumado.

Tremia feito óleo na panela. Tentou manter as aparências. Buscou as chaves na mesa ao lado da porta, simultaneamente ao ouvir a chegada da mulher do professor - que não era nenhuma imbecil, possuía vasta experiência acadêmica.

O dialogo prefacial do texto decorreu, confirmando que o bom professor nunca é perfeito.

Escada

Bate-estaca no peito
O pleito é duro e de batalha
Maltrata o sujeito
Suja a matraca de tanto falar merda
Prepara as cerdas que já é hora de escovar

Escova aqui, escova lá
- Ela vai descer a escada!
Espera
Pecado

Parada e nua na sua frente como quem quer lutar de novo

quinta-feira, 29 de março de 2007

Café extremo


- Dois cafés, por favor! Um sem açúcar.

Ele estava só, mas já armava o bote. O sem açúcar era o dele. Não era nenhum diabético com aversão a aspartame, só preferia uma bebida que condissesse com seu estado de espírito - estado esse, constante.

Chamou a moça que pedia um café adoçado no balcão, ao seu lado:

- Já pedi o seu. Sente-se.

A menina estranhou, nunca vira o sisudo homem lá. Desgostava aparentemente conhecê-lo e não atinar de onde. Nesses ligeiros segundos que precederam sua réplica, a menina recorreu à memória: sem sucesso. Ainda visitou de repente os lugares que freqüentava, e nenhum ambiente e seus respectivos climas lhe refrescavam a fronte. Beirando os 30, cogitou que nem só com as rugas uma mulher deve se preocupar. Ainda recorreu ao Nelson Rodrigues, nesse escasso intervalo: “toda mulher bonita é um pouco a namorada lésbica de si mesma”. O cabelo estava bem penteado, o decote permitia a qualquer sujeito com boa vontade vislumbrar o seu umbigo, a saia colada justificava as ancas avantajadas. Um “VIVA!” à pensão do ex-marido, gasta com quatro idas semanais à academia, sacolas e mais sacolas com roupinhas que constroem corpões e cosméticos aos rodos.

Nunca li Nelson Rodrigues, mas as citações em que fitei os olhos me tentam a mudar essa situação. Não pretendo odiá-lo nem idolatrá-lo. Analisarei friamente a personalidade ímpar que pintam por aí. Ok. Não conseguirei fazer isso.

Peca quem presume que seu título de menina provém de seus cuidados com a aparência. Olhares e sorrisos são muito mais capazes do que qualquer par de belas pernas – contudo, essa dupla também é muito eficiente.

Foi até o senhor sem dizer nada. Sentou-se delicadamente no banco vizinho, trançou um joelho sobre o outro e parou a mão peluda que iria sacar um cigarro do bolso do paletó:

- O conheço?

Quem sabe ela desferindo a pergunta com indignação ou com um tom de dúvida, ele mantivesse as sobrancelhas grudadas uma a outra. Mas não. Vestindo a teoria lançada acima, ela era dessas em que as pernas são dois pedaços de carnes ambulantes, se comparadas ao olhar e ao sorriso. E foi com eles indagado, o antes sinistro homem. Ele sentiu também a sua meninice brotando no peito, em detrimento de qualquer esboço de ereção que se desenhava:

- Não. Quer dizer... Talvez já tenha me visto na pracinha que fica aqui perto. Costumo ler o jornal bem cedo por lá, pelo sol agradável que chega pela manhã nessa época do ano!

E não por inocência, mas por perceber o desconforto que causou, atirou indecência:

- Lê jornal ou observa as jovens colegiais levando suas saias rodadas ao vento, para o disparate de velhos que não temem por suas netas?

Os providenciais cafés chegaram, interrompendo o início de discussões que durariam anos. Os cafés estavam trocados, e cada um tomou o do outro em um gole só, sem perceber o engano.



Remoenda

Tem dias em que somos faceiros
De cabeça
Há um mundo tentando caber num Brasil

Busquemos esquecer detalhes e abraçar amplidões
Não há nada
Mesmo raspinhas ou milhões delas
Dúplices, casebres
Mesmo pensar nisso tudo, não há
Se ao anão cabe, ao olhar fixo, joelhos
Ao contrário, cabe o que?

Compactemos todos
- Bem amassadinhos como eu imagino -
Os sentimentos inclassificáveis, junto aos de todos nós

É que o menino de colo perguntou à mãe:
- Por que é incógnita a mim, a falta que ele sente?
Ela silenciou, ainda sem saber o nome da solidão dos outros.

segunda-feira, 26 de março de 2007

Quando a idade roubou a Liberdade?

Crescemos e amadurecemos – envergonhamo-nos. Tudo é cerimônia, mãos tímidas e perdidas. Vozes graves em timbre e recato. Não existe mais sermos amigos em cerca de uma hora, nem dar abraços sem pudor. Um encostar de rostos. São dois beijos no ar, de bochechas coladas para que os lábios não as toquem. Três, buscam demonstrar mais intimidade – mas já com responsabilidade e o intuito garantido de casamento. Tudo é cerimônia quando há barba, ou se a menstruação abre passagem para encargos de mulher.

De só uma coisa à vergonha não se incumbe: compostura. Cogitamo-la como sinônimo de recato, decência, dignidade etc., quando mais nos caberia a utilização da reserva, que busca a preservação aparente da moral. A etiqueta mal intencionada - segundas intenções? – e o decoro, fazem com que a modéstia seja, como se espera, cirurgicamente nítida, por mais que possa beirar o paradoxo, nesses meandros.

As palavras parecem um pouco mais difíceis também, visto o texto que se decorre aqui. Quando nos resumimos a um metro, somos falastrões sem medo de errar, já que qualquer deslize na norma culta da fala é motivo para risinhos de fofura e carinhos, tornando-se histórias novas para contar sobre os filhos. Já quando dos pelos na cara e da sangria mensal já delatada, tudo é calma e ponderação na hora de papear. Seja para a gíria nova - bem empregada - da estação, ou para o estabelecimento e manutenção da bela e complicada língua - que nos separa do resto dos americanos subdesenvolvidos -, nosso dialeto é obstáculo e instrumento da vergonha.

Mas, e o que adquirimos junto ao tempo? Contra a corrente da vergonha, a falta dela na cara. Sim, sim. Nos tornamos caras de pau. Sem vergonhas, claro, em um processo mantenedor de brilho e rigidez. Importamo-nos muito mais em ter para ser, em precisar para poder, em acontecer para pensar, e não nos importamos nem uma gotinha com o que isso significa. ALARME: Eis a negação da capacidade, do Homem e da verdade. Assumimos a vergonha como caráter.

Confesso: a risada de qualquer um é estopim para as minhas. E admito igualmente, contê-las sempre que há algum desconhecido. Não entendo e nem procuro entender. Passo as mãos na boca, abro-a de sono, espreguiço-me, faço ene coisas que buscam camuflar minha alegria. Sorriso é apêndice do espelho da alma – esse são os olhos! Agora, já mais compenetrado na busca de uma explicação, dentre muitas teorias, a que mais me atenta para a realidade, é a da vergonha – DE NOVO! Sinto mesmo vergonha de cair sempre na falta ou no excesso da bandida, mas puthaquelamanga, é sempre ela que eu não posso transparecer? Ah não, a vergonha novamente, dela própria, em um ciclo vergonh... AH! Cansei-me desse sentimento, que de agora em diante, recuso-me a pronunciar.

Desse estado de espírito, proponho-me apenas constatar sua existência e falta simultâneas, as quais opto por ignorar e apenas sentir. A linha tênue, desse modo, sou eu. Que não por acabrunhar-me, mas por comodismo, espero realizá-la lindamente, e mesmo que acanhado, torça sempre para não se ausentarem motivos de discernimento entre a loucura e a insociabilidade. Seja naifa de corte fino e certeiro, ou canivete de cortar unha - carente de fio -, vinde a mim a verborragia! Que me adiante apenas ser, e não a necessidade da posse, percebendo-me quase um pré-humano normal, de cerimônias natas da primeira realidade – mesmo sabendo que é impossível alcançar o nível de aceitação pessoal, compatível com a anulação total da vergonha (ops!).

À controvérsia, há controvérsias

Eu sei que isso não conta
Mas isso é muito importante
nesse momento

À controvérsia
Há controvérsias
graças à Deus

Do simples sim ao não
Rimando pano de prato com esfregão
Limpo seu porta-retrato com pano de chão

Do tolo humilde ao sabichão
Apaixonei-me pela doce aventura entre os extremos
E não temo parecer confuso
Abuso sim, da contradição

sexta-feira, 23 de março de 2007

Um simples menino


Botou na cabeça que precisava ser um cara mais comum, despreocupado, simplificar as coisas e tudo mais.

Na lojinha de frente à faculdade, o preço das roupas sem estampas estava pela hora da morte. As coisas estão mesmo muito caras. Desistiu de desembolsar a sua mesada, e foi para casa rasgar umas roupas velhas que já havia usado por mais de três vezes. Resgatou no fundo da sapateira uma sandália de plástico, dessas que o Brasil vende aqui bem baratinhas, mas que lá fora custam umas três daquelas camisetas sem estampas da frente da faculdade – a propósito: chinelas como as do garoto, com a bandeirinha tupiniquim, comercializada em Nova Iorque, eram bem raras na cidade; garantia de sucesso! Olhou para os pés, e decidiu conter seus gastos para ajudar a acabar com a fome na Etiópia. Contou para os pais que não iria mais ao pedicuro, contratado desde que uma unha encravada tinha lhe aparecido na quarta-série.

Quase perdeu a hora do seu primeiro dia na Ioga. Conseguiu um horário maravilhoso com o mais concorrido imigrante tibetano de São Paulo – talvez o único! Pegou uma graninha, deixada sobre seu laptop pelo pai enquanto dormia, juntou com suas economias oriundas do pedicuro que havia limado, e foi até lá.

Enquanto fazia suas piruetas e todos os seus “ohnnnnnnnnnnns”, deixava transparecer o quão feliz estava por se tornar aquele menino simples, e o quanto creia ter acertado em depositar aquela quantia elevada nas mãos daquele picareta paraguaio, crente em ter um elo direto com o próprio Gandhi. Mas, é claro: em pleno século XXI, todos os jovens deviam se render à magia das coisas simples; é de muito melhor grado gastar com coisas super admiráveis do que se preocupar com uma infecção no dedão do pé esquerdo, por exemplo – existem coisas muito mais importantes no mundo do que um início de gangrena.

A hora do jantar se aproximava. Quando foi à cozinha especular uns quitutes, viu que uma das empregadas preparava hambúrgueres e a outra se preparava para tirar uma coca-cola do freezer. Quase vomitou diante da absurda afronta americanista diante de seus olhos. Não teve alternativa, a não ser correr logo para seu celular e ligar para o Disk-Japan - rejeitando todo o esforço das moças americanizadas, que além de limpar todos os 1500 m² de sua casa, em cerca de meia hora preparavam a comida, com a esperança dele não reclamar com os pais e elas não perderem os 350 reais mensais. Porém, não foi possível ligar para os japas. O Playstation 2, jogado no meio do quarto, topou com seu dedão do pé esquerdo. O dedão chutou a dor para cima, arrepiando as partes mais desprovidas de proteção de seu corpo, rasgando-lhe a garganta com uma terrível dor que estourou nos ouvidos de todos os seguranças, jardineiros, copeiros, e mais meia dúzia de pessoas sem nome que dependiam de suas vontades para viver.

Uma topada, uma dor, um grito, uma escuridão, que só teve fim quando acordou no hospital. Desmaiou de agonia. Seus pais demoraram a distinguir seu filho dos demais. Estava crescido, barbudo, e por cerca de dois meses mal se viam em casa – uma grande sala de estar, seguida de uma sala de jantar, ainda vizinha de uma imensa sala de jogos, dividia seus quartos, e por conta da gangrena, não mais o rapaz visitava os pais; e por conta da negligência, não mais o casal visitava o rebento.

O doutor retornou até lá, medicou, e os mandou para casa. O menino foi se divertindo até o carro. Orgulhoso e não querendo explorar o pobre motorista, que esperava a família do lado de fora do pronto-socorro, foi até o carro sozinho, divertindo-se com o carrinho-motorizado que acabava de ganhar.

quinta-feira, 22 de março de 2007

No poDIum

A vida não é dourada
Ninguém vence sempre, afinal
Mesmo os que visitam constantemente o topo
Sabem das derrotas
Dos que são melhores
- Quem ergue muito o nariz, esquece o umbigo!

A vida não é prateada
Ninguém é feliz no quase
Nos tapinhas nas costas
Nos sorrisinhos-mentiras
Atrás de alguém
- Quem abaixa sempre a cabeça, esquece a beleza do céu!

Devíamos ser batizados com bronzeador
Darmos o devido valor ao Sol
Talvez seja de lata e sem polimento
Mas deveria ser bronzeada, a vida
Ter de perder para ganhar
- Quem mantém a cabeça livre, vê do umbigo ao céu, ainda prestando atenção aos lados!

Pontapé inicial

Em versos e em prosa, opiniões e desequilíbrio verborrático desse humilde escrevente do crônico dia-a-dia.

Sou Gustavo Ferreira, estudante de jornalismo e aspirante a alguma coisa.
Espero que gostem ou desgostem.