sábado, 9 de junho de 2007

A mulher sem defeitos é apenas admirada

Nunca é amada!

Amigo ou amiga: Não pense que eu sou desses que se vangloriam de uma teórica densidade sentimental. Não passa pela minha cabeça a fantasia de não ligar para a aparência – por mais que essa renúncia seja, possivelmente, para mantê-la. Não que a feia me atraia, já que ao me atrair, será bela em meus olhos. Mas, aquelas belas que são belas de nascença, sem dúvidas de sua beleza, que fazem qualquer um parar e olhar, que têm beleza até mesmo quando acordam feias, enfim, essas... Acho que essas eu só admiro. Claro que eu aprecio uma bela bunda, pernas, olhos, boca, cabelos, cintura, umbigo... Acho que até mesmo pés, mãos e pescoço despertam em mim coisas inerentes a qualquer reprodutor do reino animal, mas para que eu a ame, eu preciso encontrar um defeito. Acima desse desejo, que me arrebata ao detectar uma dessas privilegiadas caminhando faceira, como se fosse dona da calçada que ousa colocar-se sob seus pés, mora essa cláusula pétrea em minha alma: Jamais amarei uma mulher perfeita.

Uma pessoa tem que ter um defeitinho para se gostar, por mais que o tempo o transforme em uma simples característica – em qualidade, NUNCA. Não falo de desvios de condutas capazes de açoitar um amor, não é isso. Deslealdade, mentira e tudo mais, essas coisas todas não são boas. Falo é daqueles defeitos que todos vêem, mas que só uma pessoa será capaz de ver pequenininho de fronte aos outros atributos. Comigo sempre foi assim e arrisco dizer que todo amor de verdade possui esse proceder.

Árdua missão é dissertar sobre amor. Pelo simples fato de apenas podermos nos basear em experiências vividas para possuir propriedade real, ou por ser o tema mais recorrente em milênios de desenvolvimento cultural humano, ou, finalmente, por ninguém ter chegado à conclusão nenhuma referente ao assunto, por todo isso que todo mundo já ouviu falar, o amor, tal como Deus e outras dúvidas da condição humana, ele aparece em minha vida como foco central. E desde que li uma crônica do Arnaldo Jabor, estou sofrendo de uma inquietude muito grande. Não sei se ele parafraseou ou elaborou por si só, mas constatou que o “amor é uma ilusão sem a qual não podemos viver”. E é estranho ser desse modo, porém creio não ser o único a sempre estar apaixonado. È inadmissível me imaginar sem ter alguém na mente. Alguém que faça sofrer ou sonhar, sempre esse alguém existe em mim para “que o sonho possa transbordar”, como o Lobão escreveu. E para esse sonho continuar a ser sonho, em que busca eterna e inatingível desse amor sonhado se faça pertinente, o defeito é imprescindível, ele é a minha “paixão à primeira vista”.

A mulher sem defeitos é apenas admirada, nunca é amada. E não só a mulher, pois se uma eu fosse, depositaria tal verificação também ao homem. Acho que a mulher perfeita é a mais amada.