terça-feira, 24 de julho de 2007

Descobridor da Pangéia

Hoje meu coração acordou
Um milhão de Pangéias
Sofrendo
Um milhão de abalos sísmicos

Disse sofrendo? Não, sofrendo, não!
Trepidando

Colombo? Que Colombo, que nada!
Cabral? Às favas com Cabral...

Afinal, descobri um milhão de Pangéias trepidantes!

sábado, 21 de julho de 2007

Fio d'água

CHUÁ!

Finalmente abriu a torneira. Não conseguia por muito tempo tal feito. Na verdade nem tentava; quando atinou, a ferrugem o impedia. Suor, força e concentração foram capazes de vencer o alaranjado - cor essa, a da primeira água curta que escorreu.

Depois da vitória, trancou o aguaceiro e ficou ali sentado, admirando o feito. Levantou-se, foi até a pia, esmerou seu peso em seus braços cravados na beirinha. Recaído para frente, com os cabelos turvando a visão, reabriu e manteve um fino fio d’água correndo.

Por longo período indeterminado, sentou a vista no filete que ligava a fonte metálica ao ralo também de prata, vazado no fim da cuba de porcelana. O líquido já não possuía o laranja, e escorria tão fino quanto o feixe de realidade que ainda havia.

O fio d’água se transformou em pingos, desses pinguinhos bem minguados, compassados e insistentes que às vezes nos faz levantar da cama. Ele nem percebeu e nem reclamou com quem, provavelmente, usava o chuveiro ou dava descarga, diminuindo a fluência aquática. Manteve os olhos naquela direção.

Era uma tarde muito boa aquela, grande grau de excelência. Caminhava ao seu lado a nova e sempre bem-vinda amiga. Mais alguns amigos que não se lembrava exatamente quem. Dois, sim, eram dois os outros. Quem sabe três? Enfim... Riu, desbaratinou-os, puxou a linda pelo braço macio, tão tímido e ansioso quanto o seu, e a convidou para o lugar deles.

O local já era conhecido. Lugar planejado em silêncio por ambos, até que esse descalabro silencioso calou-se diante da verdade de seus quatro olhos, colados em uma tarde anterior sem beijos de boca, mas muitos beijos de imaginação furtiva.

Correu rapidamente a trajetória até a sacada, subseqüente às enormes e estafantes fileiras de degraus, ao primeiro e menor lance de escada, ao segundo portão, às pessoas comendo e papeado e rindo e comendo e se tocando e etc, ao caminho até aos comilões, ao portão, à segunda guia cheia de camelôs, à esquina e à primeira calçada em que estavam cinco minutos atrás, entre os três ou quatro amigos já citados

Lá os dois. Em alguns momentos falantes, em outros ponderando por sorrisos tímidos. Nem a obra e os pedreiros batucando ao lado adentravam seus ouvidos tampados de emoções.

Pediu para que cantasse. Acanhado, fez rodeios. Preferiu fantasiar que havia cantado. Já que fantasiava, o fez mais um pouco. Flutuaram por lá e por fora dali, na canção que a moça pediu. Sua voz saía rouca como sempre, mas sem que movesse os lábios. Seu canto já não era seu. Talvez fosse dela, por ela assim querer. Um canto de ninguém, o canto dos dois, sem pedreiro nem pedras para atrapalhar. Milhares de tentações, apelos, e ela ali, tão mulher, tão em si, tão para o garoto, sorrisos mastigantes, armadilhas laçadas de beijos e abraços, levando-o para onde sempre quis, sem dizer não, sem mistérios, sem vergonha.

Pousaram de volta ao cantinho. Sol ardido que cedia o calor ao batente, que fritava suas mãos escoradas. Continuaram ainda por um espaço nos beijos de alma. A bonita o interpelou, demonstrando dúvidas quanto às suas vontades. Subiu temor ao rapaz. Veio o medo de perdê-la, igualmente ao de se perder.

Para cortar o receio, um beijo macio e não muito alongado. Outros vieram. E vieram ainda outras tardes, sempre tão intensas e de potencial purificador só agora percebido.

Um CHUÁ travestido de passagem de volta tomou o lugar dos pingos, então enfeitados de passagem de ida ao passado.

Em terra concreta, cerrou a torneira. O ralo engoliu o fio.

Já é tarde. Melhor dizendo, ainda é tarde. Tarde muito boa como aquela, grande grau de excelência.

segunda-feira, 9 de julho de 2007

Ferro e fogo

Que lado prefere de mim?
Aquele que fere ou o que arde?
Um fere fundo e burro sem saber
Outro arde bonito e louco.
No sentido figurado, o fogo tem é que queimar

Quem engoliu a chave
Dessa porta que
Teima
Em se manter fechada?

Se eu te ferir é para depois queimar
Arrombo-te
Maculo-te
Sentidos desfigurados

O fogo deve arder

terça-feira, 3 de julho de 2007

Poema descompromissado do 21º aniversário

Vinte e um anos vividos
O vigésimo segundo em vigência.
Segundo o calendário,
Eu moro no meio do ano!
Segundo o meu coração,
Vem morar no meio de mim?

domingo, 1 de julho de 2007

No Mundo da Lua

Título óbvio!

Essa mentirada de que os Yankes e sua Apolo 11 puseram suas garras na Lua, em 1969, sempre me pareceu bem plausível! Puxa vida, e por que não? É bem digno ratificar isso, já que tanta coisa é possível. O Homem já fez tamanhos lances, já inventou e descobriu tantos mundos, por que não em território espacial? Eu mesmo, pequenino perto de qualquer imensidão estelar, no alto de meus castelos de areia de alicerces rígidos, muitas vezes me encontro por lá admirando uma pálida (mas não gélida!) lunática, carente de Sol. Ouso ser seu astro-rei, mas, de certo, os toques de satisfação, entremeados de negativas sutis e charme balançante de quem tem medo de ceder, fazem com que eu recue um pouco na minha tentação de iluminá-la; que pecado lunar seria o seu rosto corado de Sol, impedindo-lhe de a face rosar a cada uma das sinceridades com que lhe interpelo!

Sabe-se que desde os míticos navegadores portugueses e espanhóis, monstros e dragões sempre foram grandes temores, e as explicações mais cabíveis para erros de rota que resultaram em tragédia. Aos cosmonautas e astronautas, qualquer massificação rochosa poderia significar em fracasso no pouso. Desde o Vasco da Gama camoniano, que além de Trapobana enfrentou o gigante e desiludido Adamastor, rejeitado por sua bela Tétis, até o herói moderno Neil Armstrong, que seguiu acertadamente o “em caso de dúvida, pouse”, todos esses desbravadores deram voz a nós, viajantes em terra firme. Nós, que por vezes enfrentamos também os nossos adversários fantásticos e horripilantes; nós, que nos amedrontamos envoltos de tantos os pedregulhos e obstáculos, mas engolimos o medo e pousamos, sem se importar com as marcas n’alma que a manobra implica. Também nós, que certamente já fomos Adamastores, transformados em pedra por causa de uma Tétis; pela audácia de tentarmos simplesmente amá-la por qualquer custo ou motivo, sucumbimos à condição fria e insensível de penedo; por antes enlouquecer pela desumana ninfa e cerramos os olhos diante da nereida certa, sofremos ao tomar o rumo certo e percebermos a terra-prometida já distante quando à visão e ao coração palpitante retornamos. Nós, que nesse esboço poético de sobrevida, vestimos nosso macacão impermeável, nosso capacete-cartola mágica, dispostos a retomar a aventura de desbravar a gravidade flutuante e a gravidade de “amar sem medo de outra desilusão”. Nós, que apesar de o mapa denotar tórridas barreiras, sabemos da felicidade de enfim seguirmos a direção acertada e, vestidos também de fé e esperança, faremos de tudo para que o local almejado receba por completo o nosso desejo de cuidá-lo.

Já viajei muito? Também acho... Felizmente já comprei minha passagem só de ida para o meu amado Mundo da Lua, na confiança de visitar a lunática tão esperada.