sábado, 14 de abril de 2007

A violência além da violência

Soube da notícia, choquei-me, avisei para alguns, esqueci-me de outros. Tomamos providências e fomos.

No caminho matamos saudades. Poucas vezes estaremos todos juntos novamente, datas como aquela eram uma grata raridade – gratificante por ser raro o motivo, raro por ocorrer o gratificante encontro. Os quatro botavam o papo em dia enquanto eu refletia sobre o que nos unira naquele momento, e me surpreendia ao reconhecer a cidade então desconhecida, que sinceramente eu pensava mal. Fama de mundo-cão bem mal traçada na capital que não limpa a própria bunda e fala do fedor alheio.

Ficaram do lado de fora do Hospital, fomos eu e mais um ao encontro dele. Não fugia da minha meta tentar devolver um pouquinho do seu universo desabado. Mas fugiu. Toda a dor pelo sofrimento de meu amigo escondeu-se ao atravessar aquele portão “só para funcionários autorizados”.

Corredores abarrotados de gente morrendo, com alguns sortudos que ainda possuíam macas. Quem precisava estar deitado, estava sentado. Quem precisava estar sentado, de pé. Supus o óbvio: ter uma maca naquele inferno condizia com a sorte de no dia seguinte bater na porta do céu. Sabe daquelas cenas de filmes americanos, de desastres, furacões, "Enchente - Quem salvará nosso filhos?", em que há de fato um motivo para a aglomeração de mortos vivos? Mas, não era cinema...

Saí do cine-trash e voltei para o mundo real ao entrar em uma sala, falar com sua família e sua mãe. Deve ser foda perder o marido ou a esposa. Imagino então o pai ou a mãe. Tornei a sofrer por ele.

Finalmente, cerca de meia hora após esperá-lo no estacionamento – ele estava tratando das burocracias da ocasião –, abracei-o juntamente aos nossos camaradas.

São três coisas machucando desde essa noite, umas daquelas tristes que a vida de cada um oferece: o sofrimento de meu amigo, a violência submetida aos enfermos no Hospital Antônio Giglio, e o outdoor avistado, no episódio do reconhecimento da cidade então desconhecida, que dizia mais ou menos assim: “SUPER-AVENIDA: Dep. João Paulo Cunha (PT-SP) consegue 1 milhão de reais para a construção, em Osasco”.

Prioridades políticas, violentas prioridades políticas...

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